Espanha é um país frustrado
"Espanha é um país frustrado"
O assédio feito há dois séculos pelas tropas de Napoleão à cidade de Cádis foi o pretexto para que Arturo Pérez-Reverte fizesse um imenso balanço de meia vida a escrever romances. Conversa com um romancista cercado de mundo, e naturalmente pessimista
Inglês "ou muerte"
A história vai levantando os cercos, mas há uns mais difíceis de levantar do que outros, e capacidades de resistência mais trágicas do que outras: "Um romance é sempre uma consequência da tua visão sobre a sociedade que nele conflui. E a minha é amarga e pessimista. Espanha é um país historicamente frustrado. Teve reis incapazes, aristocratas corruptos e bispos fanáticos. E hoje a classe política herdou tudo isso. É analfabeta, medíocre e qualquer visão de futuro que se atreva a ter está sempre condicionada pelas eleições seguintes. Conseguiram acabar com um Estado que levou 500 anos a construir. Quando falo com gente jovem do meu país e me pedem conselhos sobre o futuro, só lhes consigo dar duas hipóteses de escolha: ou aprendem inglês para que possam sair de Espanha ou aprendem a fazer um cocktail molotov".
Brutal, mesmo para quem acredita que os livros nos podem ir salvando: "Um mundo sem livros seria um mundo órfão. Os livros ajudam a que morras de forma tranquila. Dão-te um olhar sereno e relativo sobre o mundo. Uma biblioteca é um projecto de vida. Dá-te consolo, esperança. É a possibilidade de nunca estares só. Escrever permite-me prolongar a minha vida: conhecer mais mulheres, eliminar outros inimigos. Sem escrever tudo isso teria já terminado para mim".
Percebe-se que mesmo enredado e apostado em inventar personagens novas, desta vez o desafio era que o mais abjecto dos polícias despertasse simpatias no leitor. Pérez-Reverte nunca deixou de ser repórter. Quanto mais não seja de si mesmo: "Escrevo com o que vivi. Quando conto, recordo experiências. Ou transformo imagens. Foi o que fiz quando me inspirei numa das minhas avós