Escrever com a camera, filmar com a palavra
O chão da palavra – cinema e literatura no Brasil
Centrado na mútua influência entre cinema e literatura, está “O chão da palavra”. Assim, não é difícil achar críticos do “cinema demasiadamente literário” ou da “literatura demasiadamente cinematográfica”, afinal cinema e literatura são complementares, ou melhor, dizendo, é um encaixe perfeito ao longo da história. "Imagens são palavras que nos faltaram. Poesia é a ocupação da imagem pela palavra", Essa é uma citação do texto do crítico e gestor público de cinema brasileiro José Carlos Avellar em seu livro sobre cinema e literatura no Brasil. Desenvolvermos o hábito de julgar a relação entre livros e filmes quase só pelos desvios impostos pelo sistema dominante para a produção e circulação de filmes e de livros, esses desvios geram uma espécie de complexo de inferioridade de um meio de expressão diante do outro, de modo a que filmes, para se apresentarem ao público com uma garantia de uma boa história ou com um selo de qualidade, se proponham como uma ilustração de um livro. Algumas vezes com a loucura de quem imagina o audiovisual mais moderno e forte que o texto, outras com a submissão de quem se sente inferior ao peso cultural da obra adaptada. Do mesmo modo, pressionado para se apresentar ao leitor com uma cara moderna, alguns livros se apresentam não propriamente como um roteiro de cinema ou como se fossem o relato de um espectador que conta um filme que viu, mas como uma reprodução superficial da sensação que a projeção de um filme provoca na plateia. Talvez hoje, porque vemos mais filmes em casa, na televisão, no DVD, porque vemos mais televisão que cinema, exista uma literatura demasiadamente cinematográfica na internet. O audiovisual na tela pequena da TV, dirigido a um espectador desatento (pelo menos em comparação com a atenção dedicada, exclusiva, do espectador na sala escura do cinema), tem estimulado uma narrativa rápida e breve,