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José Gustavo Wanderley Ayres
Pesquisador do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco gustavo@arquivojudaicope.org.br Marc Chagall criou seu próprio mundo colorido de mitos e mágica, cheio de estranhas criaturas e eventos miraculosos. Ainda assim, sua arte foi essencialmente baseada em memórias e experiências reais, que ele transmutou no caldeirão de sua imaginação. Um homem quase inteiramente absorvido por seu trabalho e sua vida familiar, destinado a confrontar-se com as mais variadas culturas, a atravessar guerras e revoluções e a passar por fugas e exílio. Consequentemente, em qualquer relato sobre Chagall, a arte, a origem judaica e a autobiografia estão intimamente interligadas.
A pintura de Chagall exprime esses fundamentos. Contém a certeza religiosa de que, apesar das tragédias humanas, a vida e o amor são dádivas de Deus e assim devem ser usufruídos. “Haverá sempre crianças que amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos homens”, disse o artista, certa vez. E jamais mudou sua perspectiva. Através de meio século de ininterrupta produção, Chagall permaneceu essencialmente um sonhador, lírico, mágico e ingênuo, que usa o pincel para materializar a bondade e a inocência em cores maravilhosas. Marc Chagall, judeu russo, nasceu em 07 de julho de 1887, em uma família pobre em Pestkovatik, uma vila na província ocidental da Rússia czarista que é agora independente da Bielo-Rússia. Poucos anos depois, os Shagals mudaram-se para uma cidade próxima, Vitebsk, que se tornou um dos principais marcos nos quadros de seu filho.
O mais velho dos nove filhos, Moshe Shagal - nome mais tarde transformado para o francês Marc Chagall - cresceu na atmosfera fechada de uma comunidade judia da Europa
Oriental que ainda era sujeita a perseguições e ferozes explosões de violência oficial ou velada. O cotidiano fluía simples no gueto judaico. O pai, judeu ortodoxo, tinha uma banca de venda de arenques no mercado.