erro e verdade

6211 palavras 25 páginas
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Erro e Verdade na Quarta Meditação de Descartes
Renata Ramos
PUC-Rio (Bolsista CAPES)

Ao tratar do problema do erro, que aparece na Quarta Meditação, Descartes toma como claro duas teses que foram analisadas nas Meditações anteriores: a Regra Geral da Verdade1, que afirma que toda ideia clara e distinta é verdadeira, e a da supressão da hipótese do deus enganador, através da prova da existência de Deus2. Com isto, conclui que bastaria que realizássemos os nossos juízos acerca das ideias claras e distintas e suspendêssemo-los quando tratassem de ideias obscuras e confusas para que jamais errássemos3, visto que a hipótese de existir um Ser soberano que cause o erro sistemático, que cometeríamos mesmo julgando segundo a Regra Geral da Verdade, foi abolida. Dessa forma, temos, por um lado, no início da Quarta Meditação, a explicitação feita por
Descartes da tese de que esse deus, cuja existência foi provada na Terceira Meditação, é veraz4, o que acarretaria na validação da Regra Geral da Verdade e na suposta inexistência do erro.
Entretanto, por outro lado, o próprio filósofo admite, com base no ensinamento da experiência, o fato de sermos sujeitos ao erro5.
Ora, dado que Deus é veraz, e, portanto, não quer nos enganar (como foi suposto no caso do
Gênio Maligno), e que sabemos, pela Regra Geral da Verdade, que devemos limitar os nossos juízos apenas às ideias claras e distintas, isto é, dado que sabemos algum meio para não errar, como, então, é possível o erro?
Tendo esta questão em vista, Descartes, no restante da Quarta Meditação, tratará da questão do erro primeiramente investigando a sua natureza, e, em seguida, analisando-o sob duas
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A Regra Geral da Verdade é extraída como possível a partir do argumento do cogito: “E, portanto, parece-me que já posso estabelecer como regra geral que todas as coisas que concebemos mui claramente e mui distintamente são todas verdadeiras.” (Meditações, p. 137, §2; AT IX, 27); e após a prova da

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