Era Vargas
A primeira orientação para este assunto é na realidade uma advertência.
Certas personalidades históricas apresentam perfis tão complexos que o censo comum tende a glorificá-las ou vilanizá-las. Sempre haverá em torno delas os que a defendem e os que as acusam, em uma espécie de Tribunal Histórico no qual todo cidadão outorga-se o direito de julgar e decretar a sentença. Sempre há os que desfilam argumentos favoráveis e contrários ao “réu”, na maioria das vezes apoiados por fatos e análises convincentes, capazes mesmo de convencer outros cidadãos a usá-los como seus. O calor destes debates esconde, no entanto, um enorme afastamento de uma análise historicamente mais precisa.
Não existe ao certo a “imparcialidade objetiva” que muitos teóricos da
História advogam, mas é sempre bom perceber que os extremos encerram equívocos, exatamente por não permitir que sejam observadas as mínimas condições de critérios para analise. Não se pode reduzir as coisas da Historia ao velho jargão de “mocinhos e bandidos” e nem colocar uma medalha ou uma pecha nestas personalidades. Como eternos estudantes, devemos verificar as realizações e as incongruências de uma etapa do processo histórico no qual esta personalidade está inserida, perceber os grupos sociais e os interesses envolvidos e reconhecer, em fim, os diferentes pontos presentes nesta etapa.
Poucos assuntos são capazes de despertar estas paixões como o período denominado como “Era Vargas”, na realidade os anos entre 1930 e 1945, nos quais Getulio Vargas foi a personalidade marcante e em torno da qual surgiu um
Brasil diferente daquele até então existente, com realizações e contrastes, com tendência à autocracia, com economia modernizada, avanços e recuos sociais, com a hibridez típica de uma época de extremos no interior de um mundo capitalista-liberal em crise. Protagonista de um impulso renovador em um cenário de país pobre e dependente e portador, ao mesmo tempo, de pulso forte e até