Introdução Nas últimas duas décadas vários estudos epidemiológicos proporcionaram uma compreensão mais ampla da ocorrência e do curso dos transtornos mentais, permitindo que se conheçam as consequências diretas e indiretas das doenças, como prejuízo no funcionamento individual, familiar e social. Essas informações servem como uma base para decisões políticas em saúde mental, bem como para a avaliação do acesso à assistência médica e utilização de serviços de saúde (Robbins e Regier, 1991). Mais recentemente, pesquisas epidemiológicas procuraram determinar a magnitude do TB avaliando sua ocorrência na população geral. O conceito de TB tem sofrido modificações ao longo dos últimos anos, refletidas nas classificações diagnósticas como DSM e CID. O conceito de espectro, que amplia significativamente a prevalência desses transtornos, é ainda polêmico e sua validação na população geral é essencial para que ações específicas em saúde pública possam ser conduzidas, visando à adequada prevenção e ao tratamento do TB. Neste artigo, é feita uma revisão crítica da literatura, considerando-se a qualidade dos estudos em termos da sua capacidade de gerar informações sobre a distribuição do TB na população geral. Em estudos de prevalência, podem-se considerar as pesquisas transversais, que incluem amostras aleatórias da população geral e são examinadas com critérios diagnósticos padronizados e reproduzíveis, como delineamento “padrão-ouro”. Uma breve descrição desses estudos e suas vantagens e limitações é feita a seguir. Estudos epidemiológicos : delineamentos e medidas resultantes Em psiquiatria os estudos epidemiológicos descrevem a distribuição dos transtornos psiquiátricos na população e seus possíveis fatores determinantes, além de permitir que se avaliem consequências diretas e indiretas das doenças. Com isso, pode-se melhor avaliar a etiologia e a história natural das doenças na comunidade, o que colabora ainda para a elaboração da validade