Entrevista com a linguista aplicada Vera Menezes
1. Que é língua(gem)?
Achei muito interessante que a primeira pergunta não tenha sido o que é língua e nem o que é linguagem, mas o que é língua(gem)? Isso me permite ignorar a dicotomia língua/linguagem e entender ambas como partes inseparáveis de um mesmo fenômeno.
Entendo língua(gem) como um sistema semiótico complexo, e, por isso mesmo, difícil de ser descrito ou definido. Os sistemas complexos são compostos de muitos elementos que se inter-relacionam em um constante agir e reagir. A dinamicidade nos faz ver o fenômeno não como um objeto estático, mas como algo em construção, em constante movimento. A língua(gem) como um sistema dinâmico e complexo é um amalgamento de processos bio-cognitivos, sócio-históricos e político-culturais, se constituindo em uma ferramenta que nos permite refletir e agir na sociedade.
Os sistemas complexos são compostos de outros sub-sistemas igualmente complexos que interagem uns com os outros e se influenciam. O fenômeno da língua(gem) vai se tornando cada vez mais complexo, pois, como todo sistema complexo, é um sistema aberto e novos componentes vão se agregando, fazendo com que o sistema mude e se auto-organize constantemente, pois nada é fixo. Um exemplo são as tecnologias a serviço da língua(gem) que possibilitam o surgimento de novas formas de expressão como, por exemplo, a imprensa, a televisão e o mundo digital. A língua(gem) é propulsora das tecnologias que por sua vez influenciam a língua(gem).
Prova disso é o constante fluxo de novos gêneros que são criados, ou transformados, que ganham ou perdem prestígio, e se inserem ou são excluídos do sistema. Cartas pessoais, por exemplo, estão perdendo prestígio, e-mails estão em alta, os pergaminhos desapareceram e a transmissão oral da história ficou restrita às sociedades não letradas.
Sausurre já preconizava a complexidade do fenômeno quando dizia que a linguagem é multiforme e que pertence a diferentes