Entre vinhos e queijos
Chovia forte e eles estavam exaustos e famintos; haviam caminhado por seis horas seguidas e agora já era noite e estava frio, aquela casa seria um local perfeito para passarem a noite. Ela era branca, aparentava ter dois andares e um sótão, toda de madeira, parecia seca e quente. Aproximaram-se com cautela, um cobria o outro e o último cobria a retaguarda; checaram, a casa estava vazia, seus donos deveriam tê-la abandonado após a invasão alemã. Após o reconhecimento de todo o local, acenderam o fogão à lenha, um deles desceu ao porão e trouxe uma garrafa de vinho, empoeirada e com uns dizeres em francês, outro encontrou queijos na despensa, estavam felizes, suas provisões seriam poupadas. Em meio ao vinho e ao queijo, discutiam sobre sua missão, afinal, qual seria a maneira mais inteligente de sabotar a torre de comunicações alemã? Pelos cálculos faltaria apenas mais um dia de caminhada, chegariam ao cair da noite e esperariam até a meia noite para agir. A missão era suicida, e agora amaldiçoavam o dia em que escolheram alistar-se nos grupos de operações especiais, a chance de escapar com vida após a sabotagem era remota, um mínimo erro e estariam mortos. Conversavam alto e já estavam com seus sentidos entorpecidos, não perceberam quando uma pequena patrulha alemã adentrou na casa. Haviam cometido um erro fatal: ninguém estava de sentinela. Tentaram lançar mão de suas ‘Thompsons¹’, mas era tarde, foram chacinados. Agora não havia mais missão, nem vida, apenas uma casa cuja sala exibia paredes, móveis e chão manchados pela guerra.
*1 Thompson: submetralhadora norte americana, utilizada durante a 2ª Guerra Mundial.
Alexandre Huberto Balbino