Ensaio sobre o tempo
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
No clássico Alice através do espelho, do escritor inglês Lewis Carroll, há uma interessante passagem em que Alice conversa com a Rainha Branca a respeito do futuro e do passado. A Rainha oferece a Alice um salário para que esta se torne sua dama de honra, salário este que inclui uma dose de saborosa marmelada todo dia de ontem e de amanhã. Alice se mostra confusa: o ontem já passou, o amanhã está por vir. Como vivemos sempre o presente, ela nunca veria a geléia. A Rainha diz, então: “Mas isto é o que ocorre quando se vive para trás. No começo a gente sempre fica um pouco confusa”.
“Viver para trás!”, disse Alice estupefada, “Nunca tinha ouvido falar de uma coisa desta!”. “Há uma grande vantagem nisto, que é o fato de que a memória funciona em ambas as direções”, contrapõe a Rainha. “Tenho certeza de que a minha só funciona em uma direção”, disse Alice, “Não consigo me lembrar de coisas antes que elas tenham acontecido!”. “Só uma memória ruim se lembra apenas das coisas do passado”, disse a Rainha. “De que tipo de coisa você se lembra melhor?”, Alice ousou perguntar. “Oh, coisas que aconteceram na semana depois da próxima”, respondeu a Rainha num tom desinterassado. “Por exemplo, agora”, continuou ela enquanto colocava um grande pedaço de curativo no dedo à medida que ia falando, “tem o mensageiro real. No momento ele se encontra na prisão sendo punido. E o julgamento só começa na quarta-feira que vem! O crime obviamente virá por último.”
Tentar compreender o que é o tempo, - o passado, presente e futuro, tal como na fábula acima narrada -, é, talvez, uma das mais difíceis empreitadas que enfrentamos em nossas vidas, afinal, antes de tentar compreender o seu sentido, sempre que pensamos nele, somos compelidos a um sentimento nostálgico, melancólico ou experimentamos um sentimento ensurdecedor de ansiedade. O tempo é um algo, a princípio, indecifrável e, principalmente, indomável.
Partiremos, portanto, na