Ensaio sobre : "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres" de Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres
Grande parte da população é educada a viver em uma paideia filosófica, ou seja, uma realidade pelo saber racional, onde o homem é guiado unicamente pelo pensar, pela razão e pelo inteligível, desprezando o sensível. Em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector, vive-se a paideia poética, ou seja, uma aprendizagem na, da e pela poiesis. Paideia, do grego, traduziu-se o mais próximo ao português como formação, educação ou aprendizagem. Já poética vem de poiesis e fingere, o canto que trás a memória a origem. Principio incessantemente renovável de brotação, gestação. O título da obra é divido em duas partes. Na primeira, uma aprendizagem, tem-se a ideia da própria aprendizagem, onde podem ser feitas as perguntas: Quem ensina? Quem aprende? Na verdade, ao longo do romance, é percebido que há uma aprendizagem mútua entre os dois personagens, Lóri e Ulisses, onde um aprende e ensina com e para o outro. É uma aprendizagem na e pela paixão, na e pela própria poeisis, no domínio do sensível e dos prazeres. Na segunda parte, ou o livro dos prazeres, este livro pode ser entendido como uma espécie de manual de instrução para vida, porém, não se separando da aprendizagem do viver. Já mencionados anteriormente, os dois personagens são amantes, enamorados, apaixonados, têm entre si uma relação de amor, porém, Clarice desconstrói a ideia do amor platônico. Este é um amor dos prazeres, do sensível, real e concreto. A palavra prazer vem de erótico, que vem de eros e que significa amor. Não é um amor pornográfico e sim algo que trás a plenitude da vida e do sensível, a ideia do desejo. A obra é um romance de formação, a autora se inscreve poeticamente nesta tradição, mas a reinventa, contribuindo para que permaneça, porém, não apenas como uma mera repetição. As narrativas modernas passam a se interessar pelo modo dramático e não narrativo, se aproximando assim do teatro. O narrador