Clarice lispector 50
A ficção de Clarice Lispector: nas fronteiras do (im)possível.
SCHMIDT, Rita Terezinha (Org.).
Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003.
207 p
Pensar Clarice, na obra de Clarice, não combina com o cerceamento que o termo
“fronteiras” suscita. Porém, quando esse termo vem qualificado pelo jogo semântico aparente em “(im)possível”, tudo parece se encaminhar para a noção de desequilíbrio, descontinuidade, desarmonia e infinitude que já internalizamos acerca de sua ficção. Essa parece ser a idéia dominante na antologia de ensaios, organizada por Rita Terezinha Schmidt, A ficção de Clarice
Lispector: nas fronteiras do (im)possível. As/Os autoras/es declaram a impossibilidade de penetrar na ficção clariceana no seu todo: a cada tentativa, um desafio e uma incerteza. Certa está Schmidt, na “Apresentação”, quando afirma que, “Diante de uma obra tão despojada em seus enunciados e, ao mesmo tempo, tão complexa a ponto de desestabilizar certezas nocionais” (p.
7), sua recepção crítica é marcada pelo deslocamento, desassossego e insatisfação.
Na busca pelo fragmento, pela percepção de uma centelha da multiplicidade de significados que a autora imprime aos textos, os doze capítulos que compõem essa coletânea refletem um amplo e rico espectro de formas possíveis de ler Clarice. Os ensaios, todos assinados por acadêmicos e acadêmicas de
universidades brasileiras ou do exterior, primam pelo inusitado (muitos deles, a partir do título) de descobertas feitas nos nichos da significação instigante e excitante das ficções, que colocam sub judice. Quem garante a unidade dos estudos é a própria Clarice. Não há fundamentos teóricos, nem tampouco estratégias de abordagem textual ou escolas estéticas comuns, nem mesmo vozes em uníssono. É na e pela diversidade de posicionamentos críticos que Clarice, mais uma vez, se manifesta incitante a seus leitores e leitoras.
O ensaio inicial, “A poética canibal de
Clarice Lispector: do