Análise Comparativa entre A hora da estrela e Uma vida em segredo de Autran Dourado

Fragmentos de arquivo. Interfaces: de Maca a Biela. Leitura comparatista entre novelas: Uma vida em Segredo de Autran Dourado (1964) e A Hora da Estrela de Clarice Lispector (1977).

1Maria Celeste de Oliveira Andrade

Esta pesquisa consiste em uma análise comparativa de duas obras literárias: “A Hora da Estrela” (1977) de Clarice Lispector e “Uma Vida em Segredo” (1964) de Autran Dourado. Antes de começarmos a análise propriamente dita, transcreveremos o conceito de Literatura comparada sintetizado por Leyla Perrone-Moisés no livro Flores da Escrivaninha:
A literatura comparada é a arte metódica pela busca de ligações de analogia, de parentesco e de influência, de aproximar a literatura dos outros domínios da expressão ou do conhecimento, ou então, os fatos e os textos literários entre eles, distantes ou não no tempo e no espaço, contanto que eles pertençam a várias línguas, ou várias culturas participando de uma mesma tradição, a fim de melhor descrevê-los, compreendê-los e apreciá-los.2
É neste leque de orientações que a pesquisa foi pautada com o objetivo de investigar alguns desses indícios textuais e afinidades, interesses comuns e estilos, tendências, representações, intertextualidades, influências, contaminações, empréstimos, e contextos que envolveram os textos literários de ambos os autores.
Ao levarmos em conta a complexidade da novela A Hora da Estrela no que tange a possibilidade de uma leitura arquitetada em um viés plurissignificativo, optamos por aprofundar apenas alguns destesviés, privilegiando mais a releitura a nível social, e considerando aspectos como alteridade, identidade e cultura presentes na obra.
“A Hora da Estrela veio desmentir e reiterar que tudo o que se refere à questão social sempre esteve presente na vida de Clarice”: “ela jamais conseguiu apagar da memória a imagem da miséria nordestina, ou melhor, a pobreza do Recife, principalmente a que até hoje se encontra nos mocambos dos mangues recifenses”3 (BORELLI, 1981).