Ensaio de Latour e como se faz um grande divisor
O provocante título do texto ‘Jamais fomos Modernos’ de Bruno Latour (1994) evoca a discussão sobre como é tênue a separação entre natureza e cultura. E, ainda, a que ou a quem serve essa separação. Neste ensaio procuro arregimentar seus argumentos contidos nesse texto como também esboçar a sua proposta para superar essa problemática. De outro modo discutir a partir de Godman e Stolze (1999) a proposta que eles constroem para uma antropologia sem a exotização do Outro.
Latour assim como outros autores contemporâneos é relacionado aos pensadores que se desafiam a fazer uma revolução silenciosa1. Esta revolução é silenciosa porque se propõe a romper com o pensamento dualista e/ou nega- se contrapor de forma simples a relação natureza e cultura, para tanto esses autores questionam essa separação de diferentes lugares para romper com esse paradigma, no entanto, não se agrupam em torno de um novo. Pode-se indicar que de comum há uma passagem da epistemologia para a ontologia. Assim a fenomenologia2 entra novamente na antropologia, não tanto com o sujeito intencional, mas muito mais focada na prática. Outro elemento que une esses autores é que estes concedem um grande espaço para a reflexão sobre o ocidente, um processo denso de autorreflexão.
No texto Jamais Fomos Modernos o autor relata uma proliferação dos híbridos, mas o que seriam esses híbridos? Para Latour objetos que já não podemos considerar nem totalmente naturais nem totalmente sociais e que nos faz questionar sobre essa radical separação entre natureza e cultura produzida pelo mundo moderno. As discussões sobre o buraco na camada de ozônio ou sobre as sementes geneticamente modificadas, etc; instauram um mal estar de que não conseguimos mais gerir esses problemas, para solucionar isto devemos reatar “o corte que separa os conhecimentos exatos e o exercício do poder, digamos a natureza e cultura”(1994).
A origem dessa separação é o nascimento do humanismo. E