Engenharia de segurança
Fatores humanos nos acidentes de trabalho sob a perspectiva tecnológica:
Causa ou risco ?*
Renato Rocha Lieber1
Nicolina Silvana Romano-Lieber2
1. INTRODUÇÃO
A consideração de fatores humanos nos acidentes de trabalho (AT) não é um fato novo. Antes de tudo, trabalho é próprio do homem, um ser capaz de agir confrontando a natureza. No curso desta ação, cabem as vicissitudes e as intercorrências, cujas interpretações possíveis dependem de uma visão de mundo. Para o homem na condição primitiva ou selvagem, o mundo foi sempre um arranjo de necessidades, explicado pelas
“causas”. Nos infortúnios, não existem acasos ou coincidências, mas sim “alguém” agindo ou invocando forças, impedindo a consecução do desejo ou intenção. Coube à filosofia e à ciência, na tradição ocidental, a formulação de novas questões, possibilitando uma perspectiva tecnológica para o curso das ações e para entendimento dos seus resultados adversos.3 O propósito deste trabalho é mostrar como as necessidades contemporâneas do trabalho organizado, ao fazer uso de tecnologias, refutam e ao mesmo tempo fazem uso dessa concepção mais tradicional. Aparentemente contraditório, o processo de uso do conceito de “fatores humanos” enquanto “causa” é fundamental para a viabilização dos empreendimentos tecnológicos, pois permite o convívio social com situações de elevada incerteza. Esta decorre do uso da ciência nas suas condições limites ou “de ponta”, imposição necessária para a viabilização da moderna economia de mercado.4
Como a perspectiva tecnológica tem referencial próprio para o entendimento das coisas
(distinto do referencial técnico), a exposição do tema tem início com a verificação deste conceito, seguindo um percurso histórico para a justificação do seu uso na explicação dos acidentes de trabalho (AT). Esta parte termina apresentando um modelo alternativo para entendimento dos fatores humanos, cujo cunho conjuntural permite inferências sob a noção de risco ao invés de