empresa
Não te fies do tempo nem da eternidade que as nuvens me puxam pelos vestidos, que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto, nácar de silêncio que o mar comprime, ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço a anêmona aberta na tua face e em redor dos muros o vento inimigo...
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te digo... Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'
De Que São Feitos os Dias?
De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias, momentâneos lampejos: vagas felicidades, inactuais esperanças.
De loucuras, de crimes, de pecados, de glórias
- do medo que encadeia todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos, dentro deles choramos, em duros desenlaces e em sinistras alianças... Cecília Meireles, in 'Canções'
Canção do Amor-Perfeito
Eu vi o raio de sol beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.
Eu vi bandeiras abertas sobre o mar largo e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco, deixei meus olhos alegres, trouxe meu sorriso amargo.
Bem no regaço da lua, já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses, mas, se fores, não te esqueço. Cecília Meireles, in 'Retrato