em busca da bruxa grimm
Gostavas de tragar o universo inteiro,
Mulher impura e cruel! Teu peito carniceiro,
Para se exercitar no jogo singular,
Por dia um coração precisa devorar.
Os teus olhos, a arder, lembram as gambiarras
Das barracas de feira, e prendem como garras;
Usam com insolência os filtros infernais,
Levando a perdição às almas dos mortais.
Ó monstro surdo e cego, em maldades fecundo!
Engenho salutar, que exaure o sangue do mundo
Tu não sentes pudor? O pejo não te invade?
Nenhum espelho há que te mostre a verdade?
A grandeza do mal, com que tu folgas tanto.
Nunca, jamais, te fez recuar com espanto
Quando a Natura-mãe, com um fim ignorado,
— Ó mulher infernal, rainha do Pecado! —
Vai recorrer a ti para um génio formar?
Ó grandeza de lama! Ó ignomínia sem par.
Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
I. INTRODUÇÃO
O objeto deste trabalho é o mito da bruxa má e seu fundamento foi extraído do conto de fadas João e Maria (Hänsel und Gretel) escrito pelos Irmãos Grimm, no século XIX, tendo sido extraído da tradição oral alemã medieval.
O conto narra a aventura dos irmãos João e Maria numa floresta, depois de serem abandonados pelo pai e pela madrasta, em virtude da fome que assolava o lugar onde viviam. Inicialmente, a madrasta tem a ideia de abandonar as crianças e convence o pai dessa necessidade. João ouve a conversa e resolve espalhar migalhas de pão para marcar o caminho de volta para casa. Assim o faz, mas quando ele e sua irmã Maria vão voltar para casa, descobrem que a trilha de migalhas não existe mais porque estas foram comidas pelos pássaros. As crianças se perdem até, que adentrando a floresta, encontram uma casinha feita de doces. Quando começam a comer os doces são abordados por uma mulher velha que, depois de atraí-los para o interior da casa, revela-se uma bruxa que prende João para engordá-lo e comê-lo e faz Maria trabalhar. João, esperto,