Em 1943
Logo veio o medo: cercados de índios durante as noites, ouvindo gritos e entrevendo flechas apontadas para si, os irmãos experimentaram, no século XX, o sobressalto que os descobridores haviam vivido na costa no século XVI. Depois, a partir dos primeiros contatos com os índios, sobrepôs-se a excitação de estar onde nenhum branco chegara antes e descobrir um Brasil primordial, abrir pistas de pouso no meio do nada, viver a vida frugal da mata.
Essa inocência, porém, durou só até a primeira epidemia de gripe a varrer os índios recém-contactados. Nas décadas seguintes, Cláudio e Orlando (Leonardo deixou cedo a expedição e morreu em 1961), criadores do Parque Nacional do Xingu e indisputadamente os maiores sertanistas brasileiros, se dedicaram a ser a vanguarda do avanço inevitável para proteger as tribos no caminho deste, e para tentar regular esse avanço.
Seu sentimento, aí, já se tornara de obstinação, missão e um quê de amargura.
Esse percurso descrito em Xingu (Brasil, 2012), do diretor Cao Hamburger, já em cartaz, é o de uma jornada heroica, na acepção do termo: vai do chamado à aventura até a síntese de tudo o que ela representou – o primeiro avistamento dos kranhacarores, que no início dos anos 70 se acreditava serem a última tribo ainda isolada.
Minucioso na pesquisa e majestoso na realização, Xingu sobretudo reapresenta à plateia o gregário, político e pragmático Orlando (Felipe Camargo) e o idealista, irredutível e complicado Cláudio, que na história esteve quase sempre à sombra do irmão mas ganha, aqui, uma excepcional interpretação por parte do ator João Miguel.
Por três anos, o fotógrafo Pedro Martinelli acompanhou a última expedição dos irmãos Cláudio e Orlando Villas Bôas no norte de Mato Grosso e sul do Pará.
A viagem, que se estendeu de 1971 a 1973 com breves