Ela canta pobre ceifeira
Ela canta, pobre ceifeira
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez, Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar. Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz à o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p'ra cantar que a vida. Ah! canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando! Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Tema
Desejo de ser inconsciente como a ceifeira ,
“Ah, poder ser tu, sendo eu!\Ter a tua alegre inconsciência,”
Estrutura Interna do poema
Este poema divide-se em duas partes.
Na primeira parte o sujeito lírico descreve a ceifeira e o seu canto.
“Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia / De alegre e anónima viuvez” Na segunda parte, o sujeito lírico exprime a sua emoção em relação ao canto da ceifeira.
“O que em mim sente 'stá pensando”
“ Ter a tua alegre inconsciência”
Estrutura Externa do poema
A Ceifeira e o seu canto
Ceifeira:
. “pobre” e duma “anónima viuvez”
. Julga-se “feliz”
. Símbolo de harmonia, inconsciência e tranquilidade.
. Canta
. incerta voz
. Alegre inconsciência
“ E canta como se tivesse / Mais razões para cantar que a vida”.
O Canto:
. Era suave, “ondula como um canto de ave”( a voz)
. “Alegre” porque talvez ela se julgasse feliz, mas ela era “pobre” e a sua voz “cheia de anónima viuvez”.
. Inconsciente -a ceifeira canta “como se tivesse… razões para cantar”. Não as tem.
. Encanta e prende o poeta
Desejos e estado de espírito do sujeito Poético
. Deseja ser ela
. Desejava a inconsciência da ceifeira por ser (para ela) a única causa da sua