Economia politica
Paulo Roberto de Almeida * 1. Questões sistêmicas relativas às crises financeiras Todas as crises financeiras, sem exceção, têm uma mesma causa fundamental: o excesso de liquidez, ou seja, o crescimento do numerário, como se dizia antigamente – geralmente por permissividade da autoridade pública –, alimentado por ativos dos mais diversos tipos e turbinado por taxas de juros irrealistas (isto é, inferiores ao que seriam as taxas de juros “normais” de mercado). A expansão dos ativos se dá com a euforia dos agentes quanto a ganhos sempre crescentes nos mercados em que atuam – bolsas, imóveis, derivativos financeiros etc. – até que o movimento inverso se produz, geralmente em situação de pânico, dada a inação das autoridades e o comportamento de manada da maior parte dos atores do mercado. O começo do movimento de inversão nos mercados pode ser dado pelo aumento repentino dos juros ou pela súbita realização, por parte dos investidores, de que o retorno dos seus ativos não poderá ser aquele esperado; daí o início da retirada, que logo se converte em manifestações de pânico ou de quedas em dominó, levando as autoridades a intervirem atabalhoadamente, geralmente em caráter tardio ou com alcance apenas parcial. As modalidades e os efeitos imediatos e mediatos de uma crise financeira são, obviamente diversos a cada vez, assim como são distintos os resultados e as consequências institucionais, em termos de regulação ulterior desses mercados, muito embora mecanismos e canais de transmissão possam ser similares ou funcionalmente equivalentes, em todos eles. Estes são os conceitos básicos em torno dos quais se organiza este ensaio, bem mais focado numa análise qualitativa do problema, do que numa descrição quantitativa das crises financeiras – vistas como processos, bem mais do que como eventos – dos últimos oitenta anos. Sem ter pretensão de fornecer um detalhamento descritivo, são