Educação como prática de liberdade
Texto: Educação e conscientização (p.109 a 130)
A urgência dos problemas de organização e de coordenação deste movimento de democratização da cultura deixou a Paulo Freire menos tempo do que ele teria desejado para a elaboração teórica. Havia que aproveitar as possibilidades institucionais abertas à mobilização popular para atacar de frente a meta da alfabetização, visto que eram altos os índices de analfabetos, o que se junta a inadequação da educação.
Uma pedagogia da liberdade, como a que Paulo Freire nos propõe, tem suas exigências e a primeira delas é exatamente o reconhecimento dos privilégios da prática. E este é particularmente o caso quando a própria elaboração teórica, em sua abertura à história, ilumina a urgência da alfabetização e da conscientização das massas neste país em que os analfabetos constituem a metade da população e são a maioria pobres, num sistema social marcado pela desigualdade e pela opressão.
Há mais de quinze anos estava acumulando experiências no campo da educação de adultos, em áreas proletárias e sub-proletárias, urbanas e rurais. Experimentaram métodos, técnicas, processos de comunicação, superaram procedimentos, acreditaram sempre na troca entre os envolvidos e não apenas na transmissão do conhecimento (depósito). A prática educativa deve-se encontrar em constante reformulação e desenvolvimento.
No movimento brasileiro de educação popular sobretudo, interessam as implicações sociais e políticas, que vão além do campo pedagógico. Nesta pedagogia dá-se ênfase a visão da liberdade, que dá sentido a prática educativa que só pode alcançar efetividade e eficácia na medida da participação livre e crítica dos educandos.
Este é um dos princípios essenciais para a estruturação do círculo de cultura, unidade de ensino que substitui a “escola”, o coordenador de debates no lugar do professor, o diálogo no lugar da aula discursiva, o participante de grupo no lugar do aluno