durkheim
De fato, Durkheim poderia ter elaborado seu pensamento acerca do suicídio pelo viés da psicologia, porém se confrontaria com um dilema: localizar no indivíduo os elementos causadores do ato suicida, não necessariamente ligados às circunstâncias exteriores, circunscrevendo o suicídio à esfera meramente subjetiva. Essa hipótese, então, poderia levar à constatação de taxas relativamente estáveis em diferentes agrupamentos sociais. Durkheim, a partir desse problema inicial, estabelece a tese de que estatísticas sobre o suicídio não são suficientes para detectar suas causas. Para ele, a razão do óbito nos registros de suicidas é, de fato, a visão que se tem sobre o fato, causa aparente, que não se presta a explicar satisfatoriamente o fenômeno. Um dos casos que o autor usa para fundamentar sua tese revela que, no campo religioso, a taxa de suicídio entre os protestantes é superior à dos católicos, em qualquer região pesquisada, como consequência de um controle social mais brando sobre os fiéis. Trata-se, portanto, de causa social. É importante anotar que Durkheim não nega de todo a conjunção de fenômenos psicológicos na ocorrência do suicídio. Porém, enfatiza que essas características psicológicas são socialmente determinadas e não inatas ao indivíduo.
Não se deve levar pela aparência da obra O suicídio ao folheá-la: suas várias tabelas de dados e referências numéricas podem, à primeira vista, dar a falsa impressão de se tratar de um grande registro de dados estatísticos comentados. Porém, o escopo da análise empreendida por Durkheim excede em muito os registros de dados numéricos. A estatística é utilizada como um instrumento eficiente para o estudioso poder observar a sociedade em