Durkhaim
Capítulo III
PEDAGOGIA E SOCIOLOGIA1
& 1 – Caráter social da educação; & 2 – Importância da ação educativa; & 3 – Fins e meios da educação; & 4 – Conclusão.
& 1 – Caráter social da educação
Até bem pouco – e ainda hoje as exceções podem ser contadas – os pedagogistas estavam quase todos de acordo em ver, na educação, um fenômeno eminentemente individual2. Em consequência, a pedagogia era corolário imediato e direto da psicologia, nada mais. Para Kant como para Mill, para Herbert como para Spencer, a educação teria como objeto primacial o de realizar em cada indivíduo, levando-os ao mais alto grau de perfeição possível, os atributos constitutivos da espécie humana, em geral. Dava-se como verdade evidente, axiomática, que há uma educação, e uma só, a qual, com exclusão de qualquer outra, conviria indiferentemente a todos os homens, quaisquer que fossem as condições históricas e sociais de que dependessem. Era um ideal abstrato e único, que os teoristas de educação se propunham determinar. Admitia-se que houvesse uma natureza humana, cujas formas e propriedades seriam determinadas uma vez por todas; e o problema pedagógico consistiria em verificar de que modo a ação educativa devia exercer-se, sobre a natureza do homem, assim definida. Ninguém pensava, sem dúvida, que o homem apresentasse, de uma só vez, desde que entra na vida, tudo o que ele pode e deve ser. É de elementar observação que o ente humano não se constitui senão progressivamente, no curso de lentas transformações, que começam no nascimento, para somente chegarem a termo na idade madura. Mas supunha-se que tais transformações não fariam mais do que atualizar virtualidades, trazer à luz energias latentes que já existissem, preformadas, no organismo físico e mental da criança. O educador nada teria de essencial a juntar à obra da natureza humana. Não criaria nada de novo. Seu