dupla etica moral brasielira
O ser humano é também esse animal natural e, enquanto natural, é violento. Enquanto natural, o ser humano age à maneira das forças naturais, dominado por suas tendências, instintos, necessidades. Todavia, o ser humano natural não é pura violência, puro ser empírico. Ele é violência e razão, natureza e educação. Aliás, ele só se compreende como violento porque não é pura violência. Ele se compreende, vale dizer, põe a questão do fim da sua ação, a questão do bem, justamente porque é capaz de distinguir de maneira irredutível o lícito do ilícito, e porque se atribui a capacidade de fazer o lícito e evitar o ilícito. Esta afirmação poderia ser traduzida pela que afirma que o ser humano é dotado de um sentido moral, afirmação decorrente da evidência da tese que sustenta que o ser humano é apenas capaz de moralidade. Com efeito, reconhecer no ser humano a capacidade de se submeter ou não à regra é reconhecer que ele não está submetido e, ao mesmo tempo, que ele distingue sempre o lícito do ilícito, o bem do mal.
Mais ainda, é enquanto violento que ele é moral, enquanto transgressor que ele tem consciência das regras. Nenhum assassinato primitivo explica definitivamente a moral porque antes da existência de alguma moral não havia nenhuma diferença entre a morte do pai estraçalhado por uma fera e a do pai assassinado pelos seus filhos: antes da moral simplesmente não havia assassinato. Se quisermos, podemos buscar as explicações para a origem de quase todas as regras das morais porque todas elas são históricas. O que se revela na falta e, portanto, na regra moral é a dupla natureza do ser humano: vontade do lícito e violência do ilícito, ambas presentes tanto nele como fora dele: tanto ele como o mundo contêm o bem, mas também as forças do mal. O conflito entre um bem e um mal, entre o lícito e o ilícito, entre o sensato e o insensato está presente em toda moral.
O Brasil sofre dessa duplicidade moral. As razões são várias e derivam de fatores