Drummond e a banalidade do mal
Universidade Federal do Espírito Santo
Jaime Ginzburg
A figura de Carlos Drummond de Andrade desperta muita inquietação. Tendo convivido com Gustavo Capanema e participado do centro da vida política brasileira no governo de Getúlio Vargas, conseguiu obter reconhecimento como responsável por poesia de resistência. A consagração de $ URVD GR SRYR, especificamente, indica uma capacidade de enfrentamento de desafios extremos. Além de ter uma percepção aguda dos movimentos contraditórios do contexto histórico em que foram definidas suas condições de produção, Drummond teve, em sua experiência como cronista e como poeta, uma autonomia de pensamento difícil de constituir em um período violento como o Estado Novo. Pesquisas realizadas nos últimos dez anos têm procurado reavaliar a posição do autor na literatura brasileira. Entre elas, está o ótimo trabalho de Reinaldo Martiniano Marques, que estabelece uma conexão entre a melancolia de sua poesia e o contexto do autoritarismo no Estado Novo (MARQUES 1988). Nas duas primeiras décadas de sua produção, Drummond, em especial no livro $ URVD GR SRYR, teve de lidar com uma forte tensão ideológica no ambiente intelectual brasileiro. Para dar visibilidade ao problema, seguindo a linha de MICELI (2001) de abordagem das contradições do quadro intelectual brasileiro, procuraremos inicialmente sinalizar algumas das idéias de intelectuais que ganharam reconhecimento nos anos 30 no Brasil. Nesse período, era muito aberto no país o campo de circulação de idéias autoritárias. O prestígio atribuído a nomes como Oliveira Vianna, Miguel Reale e Gustavo Barroso tornava o campo intelectual brasileiro propício para a circulação de ideais ufanistas, mitos fundadores (CHAUÍ 2000) e discursos
1 Uma parte deste trabalho foi apresentada como comunicação no Congresso Terras & Gentes – VII Congresso ABRALIC, realizado em Salvador, de 25 a 28 de julho de 2000. O título do trabalho apresentado era “Autoritarismo e