Drogas
Alba Zaluar
“(...) Interessa-nos, na sociologia, portanto, os múltiplos significados que os atores sociais emprestam às substâncias que usam, aos riscos que correm e às relações que estabelecem entre si nas diferenças cenas ou situações de uso. Na perspectiva de um diálogo entre o cientista social e as pessoas que ele estuda, procura-se entender a dinâmica das situações sociais, em contínuo processo, com todas as indicações, rastros, contradições e paradoxos que vão aparecendo ao longo do tempo com o maior número possível de atores.
Há um consenso entre os estudiosos do assunto de que as substâncias psicoativas fazem parte das sociedades humanas desde tempos imemoriais, mas o lugar que essas substâncias ocupam na vida social, a forma de iniciação e o uso contínuo delas variam de sociedade para sociedade em diferentes tempos históricos. Igualmente variável é o lugar que os usuários de tais substâncias ocupam na sociedade parcial da qual fazem parte. Exigir ou procurar uma sociedade livre de drogas é ilusório e inútil. É justamente a comparação entre sociedades e diferentes tempos históricos que nos permite compreender a dinâmica que pode ou não criar, que pode ou não aumentar o sofrimento do usuário, as situações de conflito e incompreensão entre eles e seus familiares, parentes, vizinhos, professores, cuidadores.
São essas relações variáveis no tempo e no espaço que vão nos fazer entender porque surgem economias transgressivas que, embora enriqueçam fornecedores e seus associados, além de alimentar um caríssimo aparato de repressão, acabam por provocar efeitos desagregadores na sociedade. Tais efeitos se devem ao impacto na ocupação do espaço público pelo comércio e uso das drogas ilegais; ao crescimento das atividades criminais que passam a ser altamente rentáveis em uma atividade econômica permanente; ao aumento insofismável do sentimento de insegurança da população; ao acúmulo de problemas na saúde