DONAS DA HISTÓRIA Relações raciais, gênero e mobilidade social em Belém
Relações raciais, gênero e mobilidade social em Belém
O estudo das relações raciais tem sido apontado por diversos autores como fundamental para o entendimento de sociedades pluri-raciais (Thomas E. Skidmore, 1976, 1990; Richard Grahan, 1990 e George M. Fredrickson, 1995). No caso das relações raciais – mais precisamente entre negros e brancos – na sociedade brasileira, pode-se dizer que o tema tem sido alvo de interesse desde o final do século XIX. Nossos intelectuais, informados pelas teorias raciais de então, que enfatizavam a superioridade da raça branca, pensavam o futuro do país com grande pessimismo. Este pensamento está associado, inicialmente, aos estudos de autores como Sylvio Romero, Raymundo Nina Rodrigues (o principal representante do racismo científico entre nós) e Oliveira Vianna. Mas o debate em torno das relações raciais, como sabemos, vai surgir nos trabalhos de Roger Bastide e Florestan Fernandes1. Além destes autores, nomes como os de Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni, dentre outros, estão associados à “Escola de São Paulo”. Em que pese a importância do trabalho desses autores, a discussão em torno da questão racial não chegou a ser um tema central na academia2. Segundo a antropóloga Maria Angélica Motta-Maués (1997), mesmo levando em conta a influência desses autores (que desenvolveram seus trabalhos a partir das décadas de 1940 e 1950), o interesse pelo tema vai sofrer uma espécie de “esfriamento”, situação que persistiu por quase duas décadas, só rompida a partir de 1970 por um dos poucos cientistas sociais que continuam fiéis ao tema, justamente o sociólogo Carlos A. Hasenbalg, com seu referencial estudo (Hasenbalg, 1979)3. E esta importância, para Motta-Maués, está ligada ao fato de este autor tomar o dado étnico (raça ou cor) “(...) como elemento imprescindível de análise de uma sociologia que pretenda dar conta das múltiplas faces assumidas pela situação de enfrentamento de grupos vistos como