Dom Casmurro - Teatro

Capitu – Que? Eu ouvi bem?
Bentinho – Que Ezequiel não é meu filho!
Capitu – O que é que lhe deu tal ideia? Diga-me tudo! Depois do que ouvi posso ouvir o resto, não pode ser muito. Ande Bentinho, fale, fale.
Bentinho – Há coisas que não se dizem.
Capitu – Já que disse metade, diga tudo. Ou conte o resto para que eu me defenda, ou peço agora nossa separação. Não posso mais!
Bentinho – Já que a senhora insiste.
Narrador – Bentinho tenta se explicar, mas Capitu ri ironicamente.
Capitu – Nem os defuntos escapam dos seus ciúmes. Já sei a causa disso, é a causalidade da semelhança? A vontade de Deus te explicará tudo! Você ri? É natural! Apesar de seminário, não acredita em Deus! Mas não falemos disso, não nos fica bem dizer mais nada.
Narrador – Os dois olham para o retrato de Escobar, e depois para o menino, e ficam confusos. O olhar a denuncia, mas ela não diz nada.
Capitu, Ezequiel e Bentinho foram para Europa tempos depois. Capitu e Ezequiel ficaram por lá, mas Bentinho voltou para o Brasil, onde recebia cartas de Capitu, as quais respondia com frieza. Ele ia para Europa de vez em quando, mas não procurava Capitu nem Ezequiel. Era só pretexto para enganar a opinião pública. Um tempo depois sua mãe, Dona Glória, faleceu. Depois de mais algum tempo, José Dias também. Capitu falecera na Suíça. Meses depois, Bentinho recebe em sua casa, no Engenho Novo, uma visita de Ezequiel. Demorou-se para atendê-lo. Ezequiel estava bastante crescido e bonito, e ele estava infinitamente parecido com Escobar.
Ezequiel – Papai, não faz diferença os últimos retratos. Mamãe falava muito do senhor como o homem mais puro do mundo. O mais digno ser criado. E ansiava vê-lo de novo. Mamãe morreu tão bonita...
Bentinho– Vamos almoçar?
Ezequiel– Papai, ainda se lembra de quando me levou no colégio pela primeira vez?
Bentinho– Pois não hei de lembrar?
Ezequiel - Era na Lapa. Eu ia desesperado. E o papai não parava, dava-me cada puxão e eu ia com as perninhas...
Bentinho–