Dom casmurro em prosa e em vídeo
Professor responsável: Paulo Franchetti
Área: Estudos Literários
1. Introdução
Dom Casmurro é uma das obras mais estudadas da literatura brasileira. Sua enorme fortuna crítica pode ser dividida grosso modo, conforme a ênfase interpretativa recaia em um ou outro aspecto da constituição do enredo e das personagens, em quatro fases. Na primeira, embora o caráter ciumento de Bento viesse para primeiro plano, a interpretação predominante era que a transformação de Bentinho em Casmurro era uma reação ou um efeito da malícia insidiosa de Capitu, que o traíra com o melhor amigo. O romance seria, então, um estudo do ciúme e da traição. Na segunda fase, já nos anos de 1960, altera-se o ponto de vista crítico e o romance é visto predominantemente como um processo movido por um marido doente a uma mulher inocente. Vêm aqui, para primeiro plano, a estrutura da narração em primeira pessoa, bem como os índices do que seriam as indicações autorais do modo correto da leitura. É a fase inaugurada pelo livro de Helen Caldwell, que procedeu a um processo invertido: para desmascarar o que seria um processo subliminar a que Bento submeteria Capitu, ela agora move um processo declarado contra Bento e em defesa de Capitu, aos seus olhos inocente da acusação de adultério. Por fim, a crítica hoje hegemônica começa a se construir no Brasil a partir de um estudo de Silviano Santiago, escrito logo a seguir ao de Caldwell, no qual ele aproxima os vícios de caráter de Bento às perversões da sociedade brasileira recém-saída de um longo período de escravidão. Bento é, assim, a representação da elite preconceituosa e arrogante. Nessa linha interpretativa prosseguem os estudos de John Gledson e Roberto Schwarz, como devem também prosseguir os que ainda por certo escreverá outro machadiano da escola do pé-atrás, Sidney Chalhoub. Para esses pensadores, o interesse principal reside naquilo que Candido certa vez denominou “o Brasil como