Dois irmãos
Resenha sobre “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum
Dois “Brasis”
A história familiar que sintetiza o conflito entre um Brasil arcaico e um moderno
O embate épico entre dois irmãos gêmeos é o que ampara o melhor romance brasileiro dos últimos anos. Entretanto, o significado de “Dois irmãos”, de Milton Hatoum, está muito além do conflito puro e simples entre os irmãos Yaqub e Omar. O livro representa o choque entre um Brasil arcaico, avesso ao trabalho e provinciano, com um Brasil moderno, marcado pela industrialização e urbanização que começa a se desenvolver depois dos anos 30. O cenário não poderia ser melhor: Manaus da década de 40 e 50, afetada pela chegada da tecnologia e industrialização.
A trama começa com as personagens Halim, um libanês radicado em Manaus – Hatoum é descendente de libaneses e nasceu em Manaus -, e a brasileira (filha de um libanês) Zana. Os dois se casam e vivem num deleite quase que interminável. Mas, com a chegada dos filhos, tão desejada por Zana e temida por Halim – ele já previa que perderia espaço para os filhos - o gozo se torna esporádico e dá lugar ao sofrimento. Primeiro vieram os gêmeos e depois a caçula Rania. Domingas, uma índia entregue à família, e seu filho Nael – fruto de uma relação casual e indesejada entre a índia e Omar – completam a família marginalmente.
Dividida, basicamente, em duas frentes: uma que é composta pela dupla Zana e Rania, e outra, pelo trio Halim, Domingas e Nael; a família toma decisões e atitudes a fim de evitar o choque inadiável entre os gêmeos. O primeiro grupo nutre um amor incomensurável - considerado por alguns como incestuoso – pela vivacidade de Omar; do outro lado, estão os que preferem o silêncio e a prudência de Yaqub. É a partir dessa divisão, porém, variável, que Nael contará a saga da família líbano-brasileira e irá tentar descobrir sua paternidade.
A educação e a vocação dos gêmeos é quem determinará o futuro de cada um. Omar é retratado como o