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Entre os 16,14 milhões de pessoas (9,5% da população brasileira) que habitam a bacia hidrográfica do São Francisco, dos quais uns sete milhões na sua porção baiana, há um contingente diverso e numeroso, ainda sem quantificação precisa, que apesar de sua antiguidade e importância apenas recentemente vem tendo visibilidade – os Povos e Comunidades Tradicionais.
O Rio São Francisco – sua história, contemporaneidade e futuro, de um rio que se confunde com a trajetória do próprio país e o sentimento de nacionalidade –, ele não seria o que é sem os Povos e Comunidades Tradicionais que o habitam e o fazem, umbilicalmente a ele ligados. É de se considerar que o trabalho, a gestão da bacia e a luta de preservação do rio, com seus significados históricos, culturais, políticos, sociais e ambientais, só terão êxito ao conseguir-se a plenitude dos direitos destes povos e comunidades. Deste modo, a defesa do rio São Francisco inclui definitivamente a luta pelo reconhecimento, fortalecimento e garantia dos direitos territoriais, sociais, étnicos, culturais, organizacionais, econômicos e ambientais destas comunidades.
Ainda que encontre sérias dificuldades e possa evoluir agregando avanços tecnológicos, o modo de vida tradicional ribeirinho mostra-se sustentável ao conviver e saber tirar proveito da diversidade dos recursos naturais oferecidas pelo rio, articulando agricultura de vazante e de sequeiro (nas roças mais distantes do rio, dependentes das chuvas) com criatório de animais e pesca, como veremos adiante. Pode funcionar também com eficiência política, por exemplo, ao embasar a resistência à barragem de Sobradinho, em plena Ditadura Militar, obrigando-a ao restabelecimento de suas condições de vida na beira-borda do rio-lago.
Vazanteiros
Denominação mais comum no Médio São Francisco Mineiro, os vazanteiros assim se definem na Carta-Manifesto das mulheres e homens vazanteiros: Povos das águas e das “terras crescentes” do