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Temos algumas diferenças em nossas histórias, guri dos anos 2000. A começar pela infância. Meus desenhos animados prediletos eram Tom e Jerry, Pica Pau, Corrida Maluca, Pato Donald e mais um monte de clássicos. Tudo numa tela de, no máximo, 20 polegadas. Já tu, piá, tiveste de se acostumar com uns riscos estranhos que chamam de desenho. Tudo em uma supertela Full HD. A minha época foi mais saudável e inocente, penso eu. Mas isso não vem ao caso.
Sei também, piá, que nossa forma de ver as coisas não é igual. Enquanto eu pertenço a uma geração com mais calma para esperar, tu fazes parte de um grupo de pessoas que quer tudo para ontem. Imediatismo é a tua palavra. Tu foste ensinado a pensar assim. Mas isso também não vem ao caso.
Mas nem tudo são contrastes, doutor Geração Y. Temos, sim, algo em comum e que nós dois consideramos muito importante: somos gremistas. E aí vêm mais disparidades. Eu cresci vendo Jardel e Paulo Nunes assombrarem as defesas adversárias. Vi Dinho redefinir o conceito de futebol aguerrido. Assisti Danrlei dando a vida por nosso time e o Arce esbanjando categoria em cruzamentos e cobranças de falta. Quando eu tinha a tua idade, já colecionava uma Libertadores, uma Recopa, um Brasileirão e duas Copas do Brasil. Assisti tudinho. Fui nas carreatas e fiz muita festa. Também chorei na derrota nos pênaltis para o Ajax.
Tu não, guri dos anos 2000. Na melhor fase do nosso Grêmio desde que o mundo conheceu a tua face, tu tiveste de se contentar com Tuta e Carlos Eduardo no ataque. Triste, muito triste. A verdade, piazito, é que tu nunca viste um título do teu próprio time. Só para lembrar: Gauchão não é título, é consolo. E eu me recuso a escrever sobre Segundona.
Tudo o que tu presenciaste foram troféus sendo empilhados