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Sócrates — Logo, meu amigo, a justiça é muito pouco im portante, se ela se aplica somente a coisas inúteis. Mas vamos examinar o seguinte: em um combate ou numa luta qualquer, o homem mais capaz de desferir golpes é também o mais capaz de se defender? Polemarco — Sem dúvida. Sócrates — E o mais capaz em preservarse de uma doença não é também o mais capaz em transmitila secretamente? Polemarco — Creio que sim. Sócrates — Mas não é bom guarda de um exército aquele que furta aos inimigos os seus segredos e os seus planos? Polemarco — Não resta dúvida. Sócrates — Por conseguinte, o hábil guardião de uma coisa é também o hábil ladrão dessa mesma coisa. Polemarco — Parece que sim. Polemarco — Claro que não! Não sei mais o que eu dizia.
No entanto, continuo afirmando que a justiça se resume em ser útil aos amigos e prejudicial aos inimigos. Sócrates — Mas tu chamas de amigos aqueles que os outros reputam honestos ou aqueles que o são dÉ verdade, apesar de não o parecerem, e da mesma forma os inimigos? Polemarco — É natural apreciarmos os que julgamos ho nestos e detestar os que consideramos maus. Sócrates — Mas os homens não podem se enganar, jul gando honestas pessoas que não o são e viceversa? Polemarco — Sim, podem. Sócrates — Logo, para os que se enganam, os honestos são inimigos e os desonestos, amigos? Polemarco — Sem dúvida. Sócrates — E, apesar disso, reputam justo ser útil aos de sonestos e prejudicial aos honestos? Polemarco — Parece que sim. Sócrates — Contudo, os honestos e bons são justos e não têm capacidade de cometer injustiças. Polemarco — Concordo.
Sócrates —