Do Sagrado ao Profano - Filosofia e arte na baixa idade média
Jeferson Wruck¹
A sociedade humana é algo complexo. Síntese cambiante e polimorfa de inúmeros processos, alguns facilmente discerníveis, outros subjacentes. Dentre estes muitos ocorrem no interior do plano simbólico, no universo de representações que usamos para atribuir sentido ao mundo. Pode-se perceber que a Filosofia, entendida aqui, de modo genérico, como campo das ideias, costuma ser acompanhada de perto pela Arte. Através de suas manifestações artísticas o homem expressa, para muito além de seu sentido estético, suas crenças, valores e os recônditos de sua psique. Um fato marcante do início da Idade Média foi o destronamento do imperador romano (476). Todavia, o medievo não existiria como tal não fosse Agostinho de Hipona (354 – 430). Santo Agostinho se apropriou das categorias da filosofia platônica, deu-lhes um novo significado e fundiu a cosmovisão cristã para a Alta Idade Média. O mundo das ideias era agora a mente de Deus. O mundo natural, das coisas sensíveis e imperfeitas, passou a ser este mundo decaído e apodrecido pelo pecado. O livro A Cidade de Deus2 pode ser considerado um marco na história. Após Agostinho, o ocidente viveu num dilema dualista entre A Cidade de Deus e a Cidade dos Homens.
As pinturas cristãs dos primeiros séculos medievais, desde a arte paleocristã, passando pelas épocas bizantina, carolíngia e posteriormente, já no séc. XI, o estilo românico unificado, compartilham traços estruturantes comuns: temas espirituais e objetivos pastorais e doutrinários. Qualquer pessoa, cristão ou não, podia facilmente reconhecer os personagens principais e estabelecer a hierarquia espiritual. Deus, Jesus, Maria e os anjos são sempre o centro gravitacional da imagem. Imagens esteticamente agradáveis, ricamente coloridas e simbólicas, mas bidimensionais e desproporcionais. As mãos dos personagens podiam ser maiores que suas cabeças, os rostos inexpressivos e as crianças eram simplesmente