Um cidadão qualquer, se questionado qual o oposto de “não” prontamente dirá que a resposta é “sim”. Se perguntado o oposto de “manhã” e “noite”, não levará mais que uma fração de segundo para responder “tarde” e “dia”. Por fim, posto a palavra “mal”, não tardará em dizer que é “bem”, com um sorriso estampado no rosto. Mas que acontece se lhe perguntarmos qual o perfeito oposto de um cigarro? Seria um cigarro do avesso? E por conseguinte, qual o contrário de tabaco e papel? Não seriam tais partes essenciais constituíntes do oposto de um cigarro? Assumese, portanto, uma dualidade opositória muito distinguível no campo abstrato do pensamento, do ponto de vista do comum vivente: bom e ruim, feio e bonito, saúde e enfermidade, vitalidade e desfalecimento. No campo concreto, porém, tal processo se aplica com maior dificuldade: preto e branco, luz e sombra. Mas e água, por exemplo? Um sofista talvez lhe dissesse que o fogo seria sua contraparte, enquanto um marinheiro provavelmente lhe diria que o título pertence a terra. É fácil, portanto, chegar a conclusão que nem todas as coisas possuem contrapartes opostas. Qual o contrário de um homem alto e sorridente, de tez alva, nariz comprido e torto? Uma mulher baixa e carrancuda, negra e de nariz curto e reto? Pois eis que para determinarmos um oposto, quebramos o elemento em suas características descritivas e aplicamos um suposto “oposto” de comum conhecimento? Ao lembrar, porém, que o homem em questão existe, seu oposto deve, necessariamente, ser inexistente. Vale a pena, portanto, conferir propriedades ao inexistente? E se tudo que existe encontra seu oposto no nada, eis que o nada é o oposto de qualquer coisa, e que, portanto, um homem baixo e uma mulher alta, tendo o próprio oposto e comum, se equivalem, esfacelando tal modelo de oposição das coisas. A ideia de oposição perfeita se apresenta, portanto, como a mera ilusão de uma dualidade universal, inaplicável no campo da filosofia.