Diário de infância

Diário 3 A interiorização direta e rápida não é adquirida apenas com a etapa da função semiótica, é necessário esperar até os 7 ou 8 anos para que isso se realize. Esse atraso demonstra a presença de três níveis de desenvolvimento. Inicialmente tem-se o nível sensório-motor (ação) e alguns anos depois há o nível das operações (operação). Entre esses dois níveis ainda há outro que progride firmemente em relação à função semiótica, mas composto por muitos obstáculos, já que leva em torno de 5 ou 6 anos para a passagem da ação à operação. Desde os primeiros anos a criança possui um esquema prático de deslocamentos, ela consegue, por exemplo, ir de sozinha sua casa até a escola, mas não conseguiria representar esse trajeto por uma estrutura tridimensional. O primeiro obstáculo à operação consiste, então, na necessidade de reconstruir nesse plano novo – o da representação – o que já fora adquirido na ação. Em segundo lugar, tem-se o processo de passagem de um estado inicial centrado no corpo para um estado de descentralização. Esse é um processo muito mais difícil no plano da representação, já que ele compõe um universo bem mais extenso e complexo. As operações são ações e são escolhidas entre as mais gerais, interiorizáveis e reversíveis, nunca sendo isoladas ou próprias de um sujeito – são comuns a todos os indivíduos de um mesmo nível mental. Elas são transformações reversíveis, com inversões ou reciprocidade, são sempre relativas a algo invariante, uma noção ou um esquema de conservação. Essas noções de conservação podem, então, servir de indícios psicológicos para uma estrutura operatória.
A descentralização necessária para chegar à constituição das operações não se baseia mais apenas num universo físico, mas também num universo interindividual ou social. As construções e a descentralização cognitivas, uma necessidade para a elaboração das operações, são indissociáveis de construções e da descentralização afetivas e sociais. Em resumo, pode-se dizer que,