Divisao Regional
Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves – LEMTO-UFF
Dr. Paulo Alentejano – GeoAgrária – FFP/UERJ
A problemática agrária volta a ocupar as manchetes dos grandes meios de comunicação e a agenda política em todos os níveis. Manifestações populares em vários países do mundo contra o aumento dos preços dos alimentos parecem ter acordado aqueles que acreditavam que a questão agrária havia sido superada pela revolução nas relações sociais e de poder por meio da tecnologia impulsionada pelas grandes corporações. Dois processos socio-geográficos de fundo, a princípio independentes entre si, além das mobilizações acima indicadas merecem destaque para compreender a centralidade da questão agrária nos dias que correm: (1) a recente intensificação da urbanização do mundo e (2) a crise de abastecimento e controle das fontes de combustíveis fósseis. Vejamos cada uma a sua vez. (1) a recente intensificação da urbanização do mundo
No ano de 2007, a ONU registrava, pela 1ª vez, que a população urbana do planeta se nivelara à população rural (em 2001, a população Rural era de 53% contra 47% de população urbana). E, mais importante ainda, 70% da população urbana mundial estão localizados no chamado 3° mundo onde os sistemas de proteção social são historicamente precários ou simplesmente inexistentes. Estes países viram seus governantes aceitarem os conselhos dos organismos internacionais para que abandonassem qualquer veleidade de proteção social de sua gente. Independentemente de qualquer mudança na proporção de distribuição da renda entre ricos e pobres, o fato é que um aumento na população urbana implica necessariamente numa ampliação do mercado, haja vista não ser amplamente generalizável no âmbito urbano a produção de alimentos para autoconsumo. Assim, a vida urbana, mantidas inalteradas as relações sociais e de poder, implica numa maior mediação do dinheiro. Além disso, como já antecipara Karl Kautsky no