Diverso
34526 palavras
139 páginas
CHICO BUARQUE E PAULO PONTES Distribuído por www.oficinadeteatro.com O Maior site de teatro do Brasil Para uso Comercial deste Texto, deve-se ter Autorização da SBAT ou do Autor. APRESENTAÇÃO A esta altura do nosso trabalho, já com os ensaios bastante adiantados, seria impossível levantar o mundo de intenções que Gota D’Água contém — nossas, do Ratto, do elenco, de Dory e Luciano. O que não nos impede de ir pro inferno — ao contrário, ajuda. Podemos, entretanto, esquematicamente, esboçar as preocupações fundamentais que a nossa peça procura refletir. A primeira e mais importante de todas se refere a uma face da sociedade brasileira que ganhou relevo nos últimos anos: a experiência capitalista que se vem implantando aqui — radical, violentamente predatória, impiedosamente seletiva — adquiriu um trágico dinamismo. O santo que produziu o milagre é conhecido por todas as pessoas de boa-fé e bom nível de informação: a brutal concentração da riqueza elevou, ao paroxismo, a capacidade de consumo de bens duráveis de unia parte da população, enquanto a maioria ficou no ora-veja. Forçar a acumulação de capital através da drenagem de renda das classes subalternas não é novidade nenhuma. Novidade é o grau, nunca ousado antes, de transferência de renda, de baixo para cima. Alguns economistas identificados com a fase anterior afirmam que a saída era previsível, mas, de tão radical, impensável, dado o grau de pauperismo em que já vivia a maioria da população. No futuro, quando
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Gota D’agua
se puder medir o nível de desgaste a que foram submetidas as classes subalternas, nós vamos descobrir que a revolução industrial inglesa foi um movimento filantrópico, comparado com o que se fez para acumular o capital do milagre. O certo é que, à falta de alternativa melhor, a experiência foi posta em prática e se “consolidou”. É indiscutível que o autoritarismo foi condição necessária à implantação de um modelo de organização medidas social tão radicalmente