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Resenha do filme "Bicho de Sete Cabeças"
Bicho de Sete Cabeças (2000) é um drama brasileiro da diretora e roteirista Laís Bodanzky. Obra instigante, baseada na autobiografia de Austragésilo Carrano, Canto dos Malditos, que nos remete a profundas reflexões acerca da superficialidade de relações familiares e de certas imposições da sociedade e suas implicações no desenvolvimento de mentes insanas.
O filme conta a história de Wilson Neto de Souza (interpretado por Rodrigo Santoro), um adolescente que, por causa das desconfianças do pai de que estaria viciado em drogas, é internado em “clínicas psiquiátricas de reabilitação” e, a partir daí, tem sua rotina, modo de pensar e mesmo condição psicológica completamente alterados pela dura realidade vivenciada lá dentro.
No filme, com muita clareza e eficiência, são enfocadas três questões sociais que são de grande valia na realidade brasileira da atualidade: a relação cada vez mais tênue entre pais e filhos, o uso de drogas e a forma como o sistema cria e, mesmo assim, mantém à margem as pessoas mentalmente deficientes.
Mostra-se a falta de interação entre um adolescente, que naturalmente possui muitas contradições e questões conturbadas na mente, que necessita de contato com alguém mais maduro a lhe guiar, a lhe ouvir, a aconselhar e, de outro lado, um pai pouco tolerante e uma mãe muito frágil que não sabiam como fazê-lo. Na nossa sociedade, esse tipo de relacionamento dentro de casa não é novidade: data desde a colônia patriarcal, quando o “poder” do pai de família era incontestável. No filme, mostra-se que o aparente jeito “rebelde” da personagem principal no início da trama e até mesmo o fato de ele ter sido internado decorrem exatamente dessa impossibilidade de desenvolvimento de um relacionamento mais próximo, principalmente, com seu pai.
O momento que mais marca esse ponto no filme é quando a personagem Neto (Rodrigo Santoro) fala para o pai (Othon Bastos)