Discurso da servidão voluntária
O escrito rebelde do jovem La Boétie ainda povoa os que preferem a sociedade sem soberanos, vivendo-a e não desejando-a como utopia.
Boétie abrindo as portas do anarquismo pelo menos em seu pensamento de não existir tiranos, seguem a idéia que o anarquismo pretende abolir o Estado. Sendo uma crítica à sociedade autoritária pautada pelo exercício da soberania centralizada e hierarquizada. Investe numa sociabilidade libertária que suprime verticalizações, propõe a amistosidade das relações com base na diferença, pluralidade e desobediências posto que não há um absoluto para liberdade que não se realize historicamente como totalitarismo. Não se busca utopias pois a sociedade sem soberanos basta que as pessoas reparem e saibam utilizar os recursos que têm em suas mãos, como a força de trabalho para assim reivindicar seus direitos.
La Boétie opõe a obstinada vontade de servir à liberdade do ser, que se apresenta, contudo, como algo originalmente perdido, tão forte é o enraizamento da servidão. O que chama de primeiro ser do homem, ligado aos direitos da natureza, onde germina a semente natural da razão que se expressa no grande presente da voz e da fala, levaria antes à fraternidade e à amizade. Porém, a passagem da liberdade à servidão constitui-se em um momento enigmático, inominável, de perda e mau encontro, que mantém viva sua perplexidade.
Seu discurso é rigoroso quanto à prefiguração que faz do sujeito moderno, dividido entre o desejo de servidão e o desejo de liberdade, onde a existência do último está na íntima dependência de uma sujeição inaugural. A atualidade de seu pensamento reside na forma como evidencia esta divisão,