DIRETAS JÁ ERA: A ESTRATÉGIA DE REDEMOCRATIZAÇÃO DE HENFIL ATRAVÉS DAS CARTAS DA MÃE
ATRAVÉS DAS CARTAS DA MÃE
Márcio Malta*
“D. Maria,
Pode deixar. Eu sei falar com modos.
A senhora sabe que eu sempre fui muito jeitoso para falar as coisas nas piores situações.
Não vou criar problemas pra mim, não. Pode ficar sossegada.
O que eu tenho a dizer para os militares é um negócio que interessa muito a eles e demais a nós.
Alguém tem que dizer.
(HENFIL, 1981a, p. 42)”
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo analisa a transição do regime civil-militar para a democracia através das “Cartas da mãe” publicadas pelo cartunista Henfil na revista “Isto é”. O recorte temporal compreende os anos de 1981 a 1984, período que compreende a produção em questão e registra a época em que se deu a referida transição.
O trabalho por ora apresentado se constitui em um resumo da tese de doutorado “Um desenho da transição: a estratégia de redemocratização de Henfil através das Cartas da mãe”, defendida no mês de setembro de 2012, no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da
Universidade Federal Fluminense (PPGCP-UFF).
O objetivo central da pesquisa foi acompanhar pelo olhar de Henfil os esforços da sociedade civil e política para restituir a democracia no Brasil, percorrendo desde a luta pela anistia, o movimento pelas Diretas já e a eleição do Presidente da República Tancredo Neves através do Colégio Eleitoral.
Por meio da conjugação de referenciais teóricos, históricos e o uso de fontes primárias, o trabalho se debruça sobre a maneira conservadora que se deu a transição brasileira, utilizando categorias analíticas e o discurso gráfico e verbal construído por Henfil nas “Cartas da mãe”. São utilizados conceitos como o de cultura política e da “história vista de baixo”, na perspectiva de demarcar no caso brasileiro uma propensão das elites brasileiras à conciliação e uma construção da história pela ótica das personalidades. A pesquisa busca ressignificar o papel de atores políticos,