direito
Não quis Deus que os meus cinqüenta anos de consagração ao
Direito viessem receber no templo do seu ensino em S. Paulo o selo
de uma grande bênção, associando−se hoje com a vossa admissão ao
nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos, em que o ides
esposar.
Em verdade vos digo, jovens amigos meus, que o coincidir desta
existência declinante com essas carreiras nascentes agora, o seu co−
incidir num ponto de intersecção tão magnificamente celebrado, era
mais do que eu mereceria; e, negando−me a divina bondade um mo−
mento de tamanha ventura, não me negou senão o a que eu não
devia ter tido a inconsciência de aspirar.
Mas, recusando−me o privilégio de um dia tão grande, ainda me
consentiu o encanto de vos falar, de conversar convosco, presente
entre vós em espírito; o que é, também, estar presente em verdade.
Assim que não me ides ouvir de longe, como a quem se sente
arredado por centenas de quilômetros, mas de ao pé, de em meio a
vós, como a quem está debaixo do mesmo tecto, e à beira do mesmo
lar, em colóquio de irmãos, ou junto dos mesmos altares, sob os
mesmos campanários, elevando ao Criador as mesmas orações, e
professando o mesmo credo.
Direis que isto de me achar assistindo, assim, entre os de quem
me vejo separado por distância tão vasta, seria dar−se, ou supor que
se está dando, no meio de nós, um verdadeiro milagre?
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Será. Milagre do maior dos taumaturgos. Milagre de quem respi−
ra entre milagres. Milagre de um santo, que cada qual tem no sacrário
do seu peito. Milagre do coração, que os sabe chover1 sobre a criatu−
ra humana, como o firmamento chove1 nos campos mais áridos e
tristes a orvalhada das noites, que se esvai, com os sonhos de
antemanhã, ao cair das primeiras frechas de oiro2 do disco solar.
Embora o realismo dos adágios teime no contrário, tolerem−me3
o arrojo de afrontar uma vez a sabedoria dos provérbios. Eu me
abalanço a