direito
Ao longo das últimas semanas, as manifestações que ocupam logradouros públicos das cidades brasileiras provocam as mais disparatadas reações e interpretações. Multidões que sinalizam se constituir não meras somatórias de indivíduos, mas conjuntos de cidadãos. Multidões que bradam sua indignação, que levantam inúmeras bandeiras, por vezes, desencontradas, mas convergindo, quase sempre, nos seguintes pontos: a melhoria da qualidade dos serviços públicos (saúde, educação, transporte, saneamento, segurança, lazer, cultura, etc.); o combate à corrupção empreendida por uma classe política acanalhada, submissa aos desígnios da elite e do capital financeiro internacional e indiferente aos anseios populares e a defesa de ampla reforma política, dada a evidente falência do sistema político e partidário brasileiro como esfera que contemple efetivamente a participação popular. Analisar a abrangência dessas manifestações, suas causas e suas consequências exigiria um distanciamento crítico, e, sobretudo, temporal. De pronto, só podemos recorrer a especulações e frisar aspectos evidentes por si mesmos. Os aspectos evidentes por si mesmos são a espontaneidade do movimento, sua desvinculação de bandeiras partidárias e sua polifonia, ou heterogeneidade de vozes. O movimento iniciado pela oposição à elevação das tarifas do transporte coletivo ganhou corpo e consistência graças ao manuseio das novas mídias (internet). Mídias estas que fragilizaram as peias do monopólio e manipulação ideológica das grandes empresas de telecomunicação. Desvinculadas das tradicionais palavras de ordem partidárias, essas mobilizações sofreram, de início, descaso e repressão, tanto dos chamados governos de direita como dos governos de esquerda. Consistentes foram, a posteriori, assediadas por esses governantes. Foram assediadas pelo arrivismo da direita tucana, ansiosa por apropriar-se das repercussões do movimento, numa tentativa de