Direito
Criminologia, teoria social e cultura: mapeando territórios discursivos apostos ao crime e desvio, Rita Joana Basílio de Simões Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Neste artigo, avançar-se-á com uma proposta de viragem idêntica, menos para desvendar soluções definitivas, do que por convicção no potencial que uma tal viragem pode oferecer. O que se pretende sustentar é que o crime e desvio requerem também entre nós uma criminologia animada por diferentes orientações teóricas e métodos analíticos, sensível às diferenças identitárias e inerentes implicações no sistema de privilégio e desigualdade e cujo foco de análise convirja para o entendimento da natureza, causas e possíveis consequências da representação do crime na cultura do nosso tempo. Ocupar-nos-emos, em primeiro lugar, dos matizes do discurso nos contextos institucionais e intelectuais onde tradicionalmente emergem as mais comummente aceites concepções sobre o fenómeno criminal e desviante.
Os media e a cultura popular são uma arena para os debates políticos e culturais legitimarem e contestarem a ordem social, estabilizarem e reconfigurarem o status quo. A forma como, nessa arena, questões feministas fundamentais são disputadas não assenta, de um modo geral, em consensos fáceis, nomeadamente porque, pelo menos parte, os temas e os argumentos prosperam ou fracassam a partir da gestão contingente que deles é feita pelos media (Silveirinha e Cristo, 2008; Simões e Peça, 2008).
Tal como noutras áreas da vida social, é através do discurso mediático sobre o crime que os problemas sociais afloram o espaço público, onde se intersectam o poder definitório de alguns grupos com o sistema de desigualdade e privilégio alojado nas estruturas e práticas discursivas culturais.
O que se pretende sustentar neste texto, onde mapeamos territórios discursivos do crime e desvio, é a urgência de uma criminologia sensível às diferenças identitárias e ao sistema de desigualdade e privilégio