Diferenças

DIFERENÇA, DESVIO, PRECONCEITO E ESTIGMA:
A QUESTÃO DA DEFICIÊNCIA
Valdelúcia Alves da Costa

1. REFLETINDO SOBRE O CORPO DESVIANTE: AS QUESTÕES BÁSICAS

Discutir a questão do desvio em nossa sociedade não tem sido uma tarefa simples, pois para VELHO (1985, p. 11), “O problema de desviantes é, no nível do senso comum, remetido a uma perspectiva de patologia”. E mais, “tradicionalmente, o indivíduo desviante tem sido encarado a partir de uma perspectiva médica preocupada em distinguir o “são” do “não-são” ou do “insano”.
Dessa maneira, certas pessoas apresentariam características de comportamento “anormais”, sintomas ou expressão de desequilíbrios e doença. Tratar-se ia, então, de diagnosticar o mal e tratá-lo. O “mal” seria uma entidade atribuída ao indivíduo, definido ou como fenômeno endógeno ou mesmo hereditário. O ponto de vista discutido por VELHO transforma a realidade individual em algo independente da sociedade e da cultura, deformando o processo de conhecimento ao desconsiderar que a vida cultural é multifacetada e dinâmica e, também, desconsidera que o desvio é uma produção decorrente das relações interpessoais, dos que os cometem e dos que reagem, ou seja, está inserida na dialética das relações sociais.
Estamos nos referindo, especificamente nesse trabalho, ao desvio corporal, ou seja, ao corpo deficiente, ao corpo que apresenta a ausência de algo – a visão. Queremos falar, ou melhor, tentar apreender um pouco a partir da leitura do livro de Marco Antonio de Queiroz “Sopro no Corpo” da Editora Rocco, sua experiência formativa de tornar-se cego aos vinte e um anos.
Para AMARAL (1992, p. 24), “(...) do ponto de vista biológico, o desvio está presente no corpo quando há falta ou excesso de alguma coisa”. No presente trabalho trataremos da falta do sentido da visão.
A referida autora afirma que “(...) o fato é que (seja da ótica de quem a vive, seja da ótica de quem a vê) a deficiência, do ponto de vista psicológico, jamais passa em ‘brancas