CIGARRA E A FORMIGA A cigarra, sem pensar em guardar, a cantar passou o verão. Eis que chega o inverno e, então, sem provisão na despensa, como saída, ela pensa em recorrer a uma amiga: sua vizinha, a formiga, pedindo a ela, emprestado, algum grão, qualquer bocado, até o bom tempo voltar. ─ “Antes de agosto chegar, pode estar certa a Senhora: pago com juros, sem mora.” Obsequiosa, certamente, a formiga não seria. ─“Que fizeste até outro dia?” perguntou à imprevidente. ─ “Eu cantava, sim, Senhora, noite e dia, sem tristeza.” ─ “Tu cantavas? Que beleza!A PANELA DE FERRO E A PANELA DE BARROPanela de ferro propôs à de barro Que juntas fizessem pequena excursão; Mas esta escusou-se, julgando prudente Ficar no seu posto, juntinho ao fogão. "Um toque (diz ela) reduz a pedaços Meu todo argiloso, tão frágil e inerme; No entanto, a senhora não teme os embates, Pois é protegida de rija epiderme." "Prometo-te amparo; irei afastando Os corpos que danos te possam causar; Porei de permeio, passando por eles, Meu bojo que o embate lhe dá de afrontar." Tentada da oferta, panela de barro Ao lado da sócia começa a jornada; Três pés arrastando, coxeiam, tropicam, E - tem-te, não caias - lá vão pela estrada. Encontram-se, esbarram a cada momento, Sofrendo a de barro, que em risco se viu; Mal andam cem passos, ao muito, a de ferro, A outra a mil cacos no chão reduziu; E nem a de barro podia queixar-se. Do forte a amizade não queiras jamais; Aos grandes ligado terás esta sorte: Procura os amigos no rol dos iguais. | O LOBO E O CORDEIRONa água limpa de um regato,matava a sede um cordeiro,quando, saindo do mato,veio um lobo carniceiro.Tinha a barriga vazia,não comera o dia inteiro.- Como tu ousas sujara água que estou bebendo?- rosnou o Lobo a antegozaro almoço. - Fica sabendoque caro vais me pagar!- Senhor - falou o Cordeiro - encareço à Vossa Altezaque me desculpeis mas achoque vos enganais: bebendo,quase dez braças abaixode vós, nesta correnteza,não posso sujar-vos a água.- Não