Dicionário para consumidores descontentes
Um dos principais ensaístas latino-americanos define, de A a T, termos fundamentais para a compreensão do mundo globalizado
Dicionário para consumidores descontentes por Néstor García Canclini
AMERICANIZAÇÃO - Termo empregado por soberbia ou preguiça para indicar a norte-americanização. Em rigor, dever-se-ia usar uma palavra ainda mais incômoda -estadunidização- para designar o processo pelo qual o consumo e em geral o estilo de vida de diversos países se assemelhariam cada vez mais aos dos Estados Unidos.
É inegável o lugar predominante que têm nos mercados mundiais Nova York nas artes plásticas, Miami na música e Los Angeles no cinema. Filmes e programas de televisão americanos são distribuídos por cadeias de comunicação em que abunda o capital americano. Esses setores costumam se beneficiar da enérgica influência dos Estados Unidos no Banco Mundial, no Fundo Monetário Internacional e em organismos de comunicação transnacionais. O conciliábulo (lobby) das empresas e do governo norte-americanos vem influindo para que nos países europeus e latino-americanos se paralisem iniciativas jurídicas e econômicas (leis de proteção ao audiovisual) destinadas a promover a produção cultural endógena.
Mas é simplista afirmar que a cultura mundial se fabrica nos Estados Unidos, ou que esse país detém o poder de orientar e legitimar tudo o que se faz em todos os continentes.
A globalização cultural não é um ramo da engenharia genética, cuja finalidade seria reproduzir em todos os países os dons do "American Way of Life".
Uma paisagem mais complexa surge quando vemos como as relações históricas mais amplas da América Latina com a Europa se intensificaram na última década, quando a propriedade de alguns meios de comunicação, editoras e bancos passaram para mãos espanholas. Como muitas dessas vendas do patrimônio foram aprovadas pelos governos latino-americanos ou consentidas pelas leis espanholas, mais útil que