Dias passados
Era uma bonita manhã de janeiro, e as flores desabrochavam coloridas na montanha em torno do chalé onde Cintia e Fernando havia passado juntos os últimos dias da tão sonhada viagem do casal. Era a primeira vez que tinham liberdade para tal atividade mesmo após quatro anos de namoro. O drácar já ia distante da margem do vasto lago, quando Cintia elevou seus olhos para ver a casinha no topo da rocha que haviam descido há mais ou menos uma hora. Não passava de um pontinho preto. – É lindo – ela deixou escapar. – Como? – Fernando olhou para ela; estivera ocupado fitando as montanhas. – Realmente… – ela sorriu para ele – é como você disse. Eles se encararam por um instante. As loiríssimas madeixas da moça ao vento que soprava forte, a pele alva, os olhos verdes encarando as feições do rapaz: o rosto fino, o cabelo negro à altura do ombro, a pele morena… as feições pelas quais ela havia se apaixonado. Os olhos… o direito, castanho, o esquerdo, azul como o mar cristalino que estavam a cruzar. Ela tentava gravar cada momento. – Nunca esquecerei… – ele quebrou o silêncio – do ano que passei, aqui neste vale, com meu pai, em minha infância. – Tem suas vantagens, ter um pai louco como o seu – ela deu uma risadinha. – Sempre quis voltar para passear nestes barcos outra vez – ele segurou a mão dela – e com você… O Sol ardia ameno num céu aberto e claro numa fria manhã de fim de inverno. O mar, transparente, exibia as silhuetas dos gigantes submarinos e as belezas de corais ocultas sob ele; o navio secular cruzava as águas, com sua sombra imponente, velas farfalhantes e tons de preto e vermelho; os colossos rochosos pintavam a paisagem ao redor de tons de verde e branco, e tudo era pacífico. Como se algo pudesse perturbar uma paz de milhares de anos. Os tripulantes do barco, um velho senhor barbado e seu filho, lembravam bem de Fernando, das inúmeras vezes que fizera aquele percurso com seu pai, Jacó, havia dezesseis anos. Na verdade, eles