Desmundo
O filme Desmundo (2003), de Alain Fresnot, homônimo da obra de Ana Miranda, retrata a realidade do Brasil de 1570, conta a história de uma jovem portuguesa, órfã, juntamente com outras, mandada para a América portuguesa colonial do século XVI, com o objetivo de desposarem os colonos. Nessa época, desbravadores portugueses tinham a missão de explorar a recente descoberta. O filme explora várias questões acerca do contexto da época como (linguagem, religiosidade, sexualidade, obediência, fidelidade), que serão focalizadas, principalmente, na narrativa da personagem Oribela, uma das órfãs que são trazidas de Portugal numa caravela.
Em 1552, o padre Manoel da Nóbrega solicita ao rei de Portugal que enviasse a América colonial portuguesa órfãs de boa cepa ou, na falta destas, quaisquer outras mulheres brancas, para que os homens casem e vivam em serviço de Nosso Senhor.
Oribela e as demais órfãs são levadas para um lugar onde são oferecidas a seus pretendentes por uma intermediaria. A personagem principal, que se mostra muito religiosa, apresenta-se muito contrariada com a situação em que se encontra e, chegada a sua vez, quando em contato com aquele que a desposaria, dá-lhe uma cusparada no rosto, conseguindo a desistência do pretendente.
Através dessa personagem nos deparamos com o universo da existência feminina, da religiosidade, do amor, da sexualidade. Todos esses sentimentos estão arraigados na personalidade dela e nos permite conhecer as estruturas mentais construídas culturalmente à época, uma vez que a sua voz ressoa outras tantas vozes, que por sua vez reproduzem os discursos normativos e impositivos da época, seja da igreja, seja da sociedade patriarcal. A mulher deveria ser obediente a seus esposos sem apresentar qualquer tipo de comportamento inadmissível, do contrário era justificado o uso de “corretivos” ,que envolviam certos rituais com o corpo como: nunca mais deixar o cabelo solto, mas sempre atado, seja com turbante,