Desmontagem da seguridade social e recomposição das relações público-privadas de atenção à saúde
Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra, temos ódio à ditadura! Ódio e nojo! Amaldiçoamos a tirania, onde quer que ela desgrace homens e nações...”
Ulysses Guimarães, 5 de outubro de 1988
“A década de 80 é importante ser pensada como um divisor de águas. Voltar a ela é voltar ao novo. Ser conivente e ser adesivo ao que implantou a década de 90 é o velhíssimo. É o mais velho porque é o hiperindividualismo do início do capitalismo selvagem em tempos do século XXI. [...] Os circuitos da história estão por ser abertos.” Gaudêncio Frigotto, 16 de junho de 2010
A organização do Sistema Único de Saúde como política nacional de saúde após árdua negociação pode ser considerada consequência das profundas mudanças que marcaram a sociedade brasileira nos últimos vinte anos, sobretudo das disputas políticas entre os defensores de um Sistema Único de Saúde público, universal e participativo, e grupos identificados com interesses privados e corporativos.
A década de 1990, no Brasil, caminha no sentido de um amplo consenso neoliberal, favorável à implementação do programa de estabilização, ajuste e reformas institucionais do Fundo Monetário
Internacional e do Banco Mundial, assim como de suas diretrizes de abertura irrestrita da economia, desregulamentação comercial e financeira, desregulação do mercado de trabalho e enxugamento do
Estado, com a privatização das empresas estatais e demissões em massa. Trata-de de um processo concomitante ao avanço da globalização e da mudança do padrão de acumulação capitalista, que desde os anos 1980 passa a funcionar sob o imperativo da mundialização financeira (Chesnais, 1996). A
globalização