deserto do real
“A especificidade da Revolução Cubana é mais bem expressa pela dualidade entre Fidel e Che Guevara: Fidel, o verdadeiro líder, autoridade suprema do Estado, versus Che, o eterno rebelde revolucionário que não se resignou a apenas governar um Estado. Não seria parecido com a União Soviética onde Trotsky não fosse rejeitado como o arquitraidor? Imaginemos que, em meados da década de 1920, Trotsky tivesse emigrado e renunciado à cidadania soviética para trabalhar pela revolução permanente no mundo, e pouco depois morresse – depois de sua morte, Stalin o teria elevado à condição de culto... É evidente que tal devoção à Causa (“Socialismo o muerte!”), uma vez que a Causa está corporificada no Líder, pode facilmente degenerar em o Líder decidir sacrificar, não a si próprio em prol do país, mas o país em prol de si mesmo, da sua Causa. (Da mesma forma, a prova da verdadeira fidelidade ao Líder não é o fato de se estar disposto a receber uma bala atirada contra ele; acima disso, é necessário estar pronto a receber uma bala atirada por ele – aceitar ser abandonado ou até sacrificado por ele em nome de objetivos mais altos).”
“Hoje encontramos no mercado uma série de produtos desprovidos de suas propriedades malignas: café sem cafeína, creme de leite sem gordura, cerveja sem álcool... E a lista não tem fim: o que dizer do sexo virtual, o sexo sem sexo; da doutrina de Colin Powell da guerra sem baixas (do nosso lado, é claro), uma guerra sem guerra; da redefinição contemporânea da política como a arte da administração competente, ou seja, a política sem política; ou mesmo do multiculturalismo tolerante de nossos dias, a experiência do Outro sem sua Alteridade (o Outro idealizado que tem danças fascinantes e uma abordagem holística ecologicamente sadia da realidade, enquanto práticas como o espancamento das mulheres ficam ocultas...)? A Realidade Virtual simplesmente generaliza esse processo de oferecer um produto